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"Escrevo, leio, rasgo, toco fogo e vou ao cinema." (Torquato Neto)

20 de outubro de 2014

O cílio encravado que me faz enxergar o mundo apenas por um olho

O suor brota de cada um dos meus poros,
Como poesia.
Escorre como tinta aquarela na tela branca.
Como se quisesse formar um texto,
Como se quisesse bordar uma imagem.

Meus pés são pequenos demais para me manterem ereta,
Meus joelhos finos demais para me tornarem submissa,
Portanto, meu corpo permanece deitado na sombra dos dias,
E conheço o mundo apenas em espírito.
Não sei se sou um espírito do ar ou raiz afogada na terra.

Luto com o desejo de comer da minha própria carne,
De me absorver ritualisticamente, auto-antropofagicamente,
Para que meu corpo finalmente faça peso em mim,
Para que o olho que me olha por dentro,
Perceba que ainda estou em aqui.