.

"Escrevo, leio, rasgo, toco fogo e vou ao cinema." (Torquato Neto)

20 de março de 2014

Na garganta do Tempo

Ininterruptamente luto com essa besta chamada Tempo.
Sem trégua,
Sua boca escancarada,
sedenta do meu sangue.
Nela enxergo passado, futuro e presente,
velhos cadáveres,
antigos e derrotados combatentes.
Vejo amores fracassados, teias bem bordadas,
entulhos, promessas para o dia seguinte.
Vejo máscaras de cera, belezas sugadas pela batalha,
assombrações saudosas de seus dias de glória.

Monstruosos ponteiros compõem a sua língua,
Tic-tac, tic-tac, faz sua risada maníaca.
Nas costas das minhas mãos, Ele traça as suas linhas,
nos rostos amados Ele assina.

O único deus é a boca do Tempo,
apenas dentes que trituram o osso,
bocarra que devora a tenra carne,
garganta que para a terra vomita a pele.

“Tic-tac, tic-tac, tic-tac...”
Ele ri da minha pequena existência
e me cospe, na face, as areias do tempo. 

12 de março de 2014

O poeta louco quer brincar

O poeta louco puxa meu pé à noite:
“Vamos brincar?”
Pego canetas e agulhas
e ele escreve no meu corpo
qualquer palavra boba sobre “amar”.

Vez ou outra,
o poeta louco puxa o meu lençol:
“hoje tenho apenas raiva e ganas de te machucar!”
Pega a caneta e algumas folhas
e escreve sobre elas
como se meu corpo não estivesse lá.