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"Escrevo, leio, rasgo, toco fogo e vou ao cinema." (Torquato Neto)

28 de abril de 2014

Ideias soltas, escorridas pelo chão.

Tudo que era preciso já foi dito de alguma forma. Agora só me restam palavras velhas, ideias requentadas, letras garimpadas nos antiquários em meio a poeira e mofo. Ainda assim, abro o baú dourado das palavras com a curiosidade de uma criança que diz tudo pela primeira vez. Com o espanto de Pandora ao abrir a caixa misteriosa e descobrir que as letras que eu bordo no caderno, quando unidas, não se obrigam a fazer sentido, não se importam se venho do lixo, se sou escória e vomito insetos no lugar de rimas ricas. Ao contrário, dispersas ou coladas, elas me acompanham aos hospícios, choram no meu travesseiro e pedem colo, pedem leite. As palavras que me sugam, me drenam a alma, a vida e o sangue, mas não me cobram uma lógica vã, não se enquadram em teorias, papel milimetrado e coreografias. Preferem movimentos loucos. Dançam livres, escapam das folhas e escorrem pelo chão. Gostam de tumulto, sujeira... Desejam a confusão.