Ininterruptamente luto com essa besta chamada Tempo.
Sem trégua,
Sua boca
escancarada,
sedenta do
meu sangue.
Nela enxergo
passado, futuro e presente,
velhos
cadáveres,
antigos e
derrotados combatentes.
Vejo amores
fracassados, teias bem bordadas,
entulhos, promessas para o dia seguinte.
Vejo
máscaras de cera, belezas sugadas pela batalha,
assombrações
saudosas de seus dias de glória.
Monstruosos
ponteiros compõem a sua língua,
Tic-tac,
tic-tac, faz sua risada maníaca.
Nas costas
das minhas mãos, Ele traça as suas linhas,
nos rostos
amados Ele assina.
O único deus
é a boca do Tempo,
apenas dentes
que trituram o osso,
bocarra que
devora a tenra carne,
garganta que
para a terra vomita a pele.
“Tic-tac,
tic-tac, tic-tac...”
Ele ri da
minha pequena existência
e me cospe,
na face, as areias do tempo.