Papéis espalhados na
estante sangram tinta, feridos por palavras que, juro, não gostam de mim. Relembro
velhos tempos em que elas pareciam sólidas, em que se pareciam menos comigo: menos
fumaça, mais fogo.
Matricidas, elas devoram
minhas entranhas, sugam meus fluidos, e se parecem mais comigo: menos carne, mais
osso.
Juro que as odeio, que as
enforco no papel, que as vomito no vaso, que cuspo pragas e acendo velas para
que se percam. Mas elas voltam, sempre voltam, com cheiro de palavras novas e, no
entanto, ainda sempre as mesmas, dissimuladas matricidas que envenenam a saliva
na minha boca seca.