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"Escrevo, leio, rasgo, toco fogo e vou ao cinema." (Torquato Neto)

3 de setembro de 2015

Palavras

Papéis espalhados na estante sangram tinta, feridos por palavras que, juro, não gostam de mim. Relembro velhos tempos em que elas pareciam sólidas, em que se pareciam menos comigo: menos fumaça, mais fogo.
Matricidas, elas devoram minhas entranhas, sugam meus fluidos, e se parecem mais comigo: menos carne, mais osso.
Juro que as odeio, que as enforco no papel, que as vomito no vaso, que cuspo pragas e acendo velas para que se percam. Mas elas voltam, sempre voltam, com cheiro de palavras novas e, no entanto, ainda sempre as mesmas, dissimuladas matricidas que envenenam a saliva na minha boca seca.